Blog Fui Ser Viajante
Sobre chegadas e partidas
Uma vez ouvi dizer que dá pra dividir as pessoas em dois grupos: pessoas que têm asas e aquelas que têm raízes. Basicamente, a teoria diz que as pessoas de raízes são aquelas que nasceram, cresceram e vão morrer no mesmo lugar.
Que se sentem muito confortáveis com tudo que tem ao seu redor, que não sentem a necessidade de se aventurar pelo mundo. A certeza do que esperar de cada dia não só basta, como é essencial.
Já os indivíduos de asas são aquelas almas inquietas, que precisam do movimento. Anseiam pelo novo, se arriscam no incerto e acham alegria nas descobertas.
Você se encaixa em qual grupo? Aqueles que vão, ou os que ficam?
De imediato, quando falamos de nós, viajantes, pensamos nas pessoas de asas. Não nos basta ouvir histórias. Queremos ir até lá, ver com nossos olhos tudo aquilo que nos contaram. Somos curiosos do mundo e a gente se orgulha muito disso!
Por muito tempo, eu apenas sonhei essa vida de pássaro. Minha família tem raízes muito profundas e o mundo permaneceu bem pequeno pra mim por um longo tempo. Mas três dias depois do meu aniversário de 18 anos, eu comecei a voar longe de casa. Meu pai me levou de carro até minha nova vida, pra fazer faculdade na capital. Eu estava indo embora da pequena cidade onde todo mundo conhece todo mundo, para viver ‘sozinha’ pelo mundo.
Nesse dia, eu nunca esqueci que chovia muito, torrencialmente. Era tanto trovão que ficava até difícil dirigir. Parecia um mal presságio, mas eu não estava com nem um pouco de medo da chuva ou dos riscos dessa vida nova. Esperei muito por esse momento e aquela era a realização de um sonho. Naquele dia, naquele carro, eu estava criando as minhas asas.
Mas, ao mesmo tempo em que eu estava vivendo um dos momentos mais felizes da minha jovem vida, uma lágrima escorreu no canto do olho. Eu me fiz de durona e enxuguei rápido pra ninguém ver. Mas a verdade é que eu chorei enquanto chovia e eu segurava a lembrancinha que minha irmã me deu para ‘não esquecer dela enquanto eu estava longe’. Nesse dia, já na minha primeira partida, eu descobri que não é nada fácil bater asas e ir embora, mesmo para alguém que já nasceu pássaro.
Já diz o provérbio, ‘Bendito aquele que consegue dar aos seus filhos asas e raízes’. Eu, que me julgava tão pássaro, descobri que tenho muito de árvore dentro de mim. Esse pássaro que queria voar alto, descobrir o mundo, percebeu naquele momento que existe uma beleza enorme em reconhecer suas raízes. Em dar valor ao lugar onde tudo começou, onde nós aprendemos a ser quem somos e amar tudo que amamos.
Já se foram 12 anos desde aquele dia de chuva. Voei alto e longe – foram outras casas, cidades e países. Aprendi outras línguas, vivi desafios e superei coisas que eu jamais imaginei que seria capaz. As asas me deram novos horizontes, trouxeram novos ensinamentos e conquistas. Conheci lugares mágicos e tantas pessoas inesquecíveis. Mais do que em fotos, está tudo registrado na memória e no coração.
Com alguns dos lugares que conheci ou morei pelo mundo, tive uma identificação imediata. Algo do tipo: eu poderia ser feliz morando aqui. Roma, Tiradentes, Pittsburgh, Santiago do Chile. Reconheci um pouco de mim nas praças, nas pessoas e nas experiências. Partes de uma vida que eu poderia ter. Mesmo assim, sempre chegou o momento de fazer a mochila e seguir viagem.
Pessoas incríveis também estão ficando pelo caminho. Família, amores, amigos. Pessoas que me ajudaram, me ensinaram, me amaram e me apoiaram quando eu achei que fazia meu caminho sozinha pelo mundo.
Pessoas que eu tive que abraçar em aeroportos, talvez pela última vez. Tenho que confessar que é muito difícil viajar pelo mundo com a mala cheia de despedidas.
Com o tempo percebi que, além da minha raiz principal, que eu deixei com minha família em Pernambuco, essas outras também são pequenas raízes que fui criando pelo mundo. Com tantas chegadas e partidas, percebi que a vida de quem tem asas e raízes é mesmo esse paradoxo constante.
Queremos ir enquanto pedimos para ficar.
A paixão pelo mundo nos leva embora, apresenta essa infinidade de experiências e pessoas. A gente não consegue resistir, a mudança é essencial. É impossível pensar numa vida de permanências. Mas, ao mesmo tempo, como já dizia a velha canção, depois de tantas partidas, eu ainda não ‘aprendi a dizer adeus’. Quero voar, sempre cada vez mais longe. E se partir não me permite ficar, que ao menos me permita estar.
– Que meus voos possam me levar para estar mais uma vez nos lugares do mundo que considero especiais (mesmo que seja só por mais uns dias ou uma longa temporada).
– Que eu possa estar lá para um abraço no Dia das Mães. Estar numa mesa cheia de amor a cada Natal. Estar lado a lado com meus pequenos sobrinhos, nos primeiros passos e na vida.
– Que meus amigos queridos saibam que eu sempre vou estar chegando qualquer dia. Que eu possa estar rindo e cantando na festa de casamento daqueles que se amam tão distantes de onde estou agora.
E que em todas as vezes que eu não estiver fisicamente, que ainda assim eu descubra como estar lá para todos que amo. Porque a vida de quem tem asas e raízes é de partidas e chegadas. E no final das contas, o que permanece no coração e na história são as vezes que a gente se fez presente (ainda que distante).
PS.: Quero agradecer à Márcia, que me permitiu estar aqui no Casa de Doda, como um dos ‘Amigos da Casa’. Foi uma honra e uma alegria! Márcia, você é uma das pessoas boas que a vida de blogueiro me apresentou e espero que a gente se encontre qualquer dia, nessa vida de chegadas e partidas!
Amigos da Casa – Blog Fui Ser Viajante
Hoje no Amigos da Casa recebemos a Klécia Cassemiro, uma pernambucana de sorriso largo e conversa fácil que ganhou o mundo! Desde que iniciei o blog com “vontade” agradeço muito pelas pessoas que encontro (e ainda vou encontrar) pelo caminho. A Klécia é uma delas. Sabe quando o “santo bate”, mesmo que virtualmente? Pois é!
Atualmente morando no Rio de Janeiro, a editora do Blog Fui Ser Viajante gosta de viajar, lógico, e de desbravar cada cantinho por onde passa. Muito bem acompanhada pelo marido Rafael, juntos estão realizando o sonho de conhecer ao máximo esse mundo tão grande.
Nesse post a Klécia nos brinda com uma pequena reflexão sobre o chegar e partir e tudo o que isso implica na vida de quem se enche de coragem e bate asas! Como ela diz: “O você que volta pra casa nunca é igual ao você que partiu“, no que eu concordo totalmente.
Então chega de prosa e fiquem com esse belíssimo texto!
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PS.: Klécia, eu que te agradeço por aceitar escrever aqui pro Casa de Doda e compartilhando com os nossos leitores esse texto cheio de emoção e delicadeza. Um beijo e volte sempre 🙂
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Márcia, muito obrigada mesmo por essa oportunidade! Fico tão feliz de te ver dizer que ‘o nosso santo bateu’, porque sinto o mesmo, ainda que virtualmente! Espero que a gente se encontre ao vivo um dia em breve, seja correndo, blogando ou comendo coisas deliciosas para postar no Casa de Doda Comer e Beber!
Um abraço forte, e até qualquer dia desses! <3
Klécia, quando o santo bate, é pra valer! ahahahah e dificilmente eu me engano. O bom dessa vida de blogagem é que vamos “ajuntando” pessoas queridas. E vamos nos ver sim, tenha certeza! Beijinhos