O Centro de São Paulo guarda relíquias do Período Imperial

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Que São Paulo é uma efervescência cultural, todo mundo já sabe! A terra da garoa reúne sob o mesmo “teto” o novo, o antigo, o tecnológico, o bucólico, todas as formas, cores, ritmos e amores. E o centro de São Paulo não foge a regra!

Essa cidade recebe de braços abertos todos que nela querem se aconchegar ou mesmo quem só passa por ela. É uma cidade plural, essa é sua melhor definição! Por isso é de se entender que no meio desse turbilhão, ainda encontremos partes de um passado “quase” recente bem no centro de São Paulo!

E por que essa introdução?

Pra contar da visita que fiz ao Solar da Marquesa, hoje Museu da Cidade de São Paulo, espaço que contempla ainda o Beco do Pinto e a Casa N° 1.

Esse complexo cultural fica bem no centro de São Paulo, mais precisamente onde a cidade nasceu, na rua ao lado do Largo Páteo do Collegio, onde ficam outros pontos importantíssimos no contexto histórico dessa metrópole. 

Centro de São Paulo e suas relíquias históricas

É provável que muitos dos que caminham pela Rua Roberto Simonsen, 136-A, Sé. Antes, Rua do Carmo, n° 3, nem imaginem que por ali flanaram nomes importantes do Primeiro Reinado Brasileiro e que as casas dali nos remetam aos tempos imperiais.

Nesse endereço da antiga Vila de São Paulo do Piratininga, nos deparamos com o Solar da Marquesa, casarão de propriedade de Domitila de Castro Canto e Melo, a famosa amante de D. Pedro I e, conta a história, quem realmente mandava e desmandava na Corte!

Independente da fama que deixou, a Marquesa foi, inegavelmente, uma das mulheres mais importantes do Século 19. Haja vista a quantidade de livros escritos sobre sua vida, assim como minisséries, novelas e filmes, que buscam mostrar quem era a mulher que arrebatou o coração de D. Pedro I

Solar da Marquesa de Santos, centro de São Paulo

No Centro de São Paulo – A Marquesa

Domitila ou Titilia, como era chamada pelo Imperador, nasceu no final do século XVIII, numa família tradicional de São Paulo. Os dois se conheceriam em 1822, o que motivou sua mudança para o Rio de Janeiro, onde ficava a Corte.

O titulo de Marquesa de Santos foi outorgado diretamente por sua Alteza (o detalhe é que ela nunca morou na cidade que lhe deu o título). No Rio de Janeiro, a casa onde morava também foi transformada em espaço cultural, é o Museu do Primeiro Reinado.

Eu conheço e posso afirmar que as duas casas competem entre si, pelo posto de morada mais bonita. A Marquesa tinha bom gosto!!!

A Marquesa jovem
O Romance

Dom Pedro I era casado com a Imperatriz Maria Leopoldina, da Áustria, mas isso nunca o impediu de pular a cerca. No livro 1822, Laurentino Gomes dedica o capítulo “A Marquesa”, à história de amor vivida entre Domitila e o Imperador.

De como ela foi instalada em um casarão próximo ao Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista (ahh existem lendas sobre a existência de um túnel, ligando o Palácio ao casarão da Marquesa).

E que a Imperatriz, de tanto desgosto pela vida dupla do marido, acabou adoecendo e definhando até falecer. Enquanto isso, Titilia fazia sucesso, realizando festas e influenciando as decisões na corte.

Só que da mesma forma que crescia em popularidade, também acumulava inimigos e desafetos. Era muito mal vista entre os nobres, mas não estava nem ai para eles!

Com a morte da Imperatriz Leopoldina, Titilia achou que fisgaria para sempre o Imperador, a quem chamava fofamente de Demonão e Fogo Foguinho (tá pra ti?!!)! Só que isso não aconteceria, pois outra esposa real lhe seria imputada, a Senhora Dona Amélia.

Para realização do casamento um contrato nupcial foi assinado e nele, o afastamento de Domitila era exigido. Dai que em 1829, após quase quatro anos de folguedos com o Imperador e com uma indenização de 300 contos de réis no bolso, a Marquesa volta para São Paulo e compra o casarão na Rua do Carmo, hoje centro de São Paulo e, em 1834 realiza uma grande reforma no imóvel.

Mesmo com pouca instrução, Domitila sempre teve as rédeas de sua vida, não deixando que nada a desviasse de seus objetivos, pode-se dizer que ela esteve à frente de seu tempo.

A Marquesa de Santos
*Na velhice, Domitila torna-se uma senhora “caridosa e devota”.

O Solar

Depois de ser adquirida pela Marquesa, a casa torna-se o Palacete do Carmo, uma referência ao nome da rua onde ficava. E é ai que começa a ser conhecida, já que não existem registros anteriores sobre o imóvel.

O que se sabe é que em 1802, foi dado como pagamento de dívidas ao Brigadeiro José Joaquim Pinto de Morais Leme, primeiro proprietário documentalmente comprovado. Além disso, entre 1739 e 1754, diz que existiam quatro casas no local.

Tudo indica que duas dessas casas, feitas de taipa-de-pilão, acabaram sendo unificadas e deram origem ao Solar. O imóvel é o único remanescente urbano construído por meio dessa técnica, ainda existente no centro histórico da cidade, que consistia em colocar “terra úmida entre dois pranchões de madeira removíveis”.

No casarão algumas paredes ainda estão preservadas, com o intuito do visitante entender como eram feitas.

Domitila, a Marquesa, devidamente instalada em sua nova e bela casa, ia tocando a vida, realizando suas festanças e, agora longe da corte, angariando a simpatia das pessoas, além de ganhar admiradores.

Acabou se casando com Rafael Tobias de Aguiar, político e militar paulista. Foi nessa época que o casarão passa a ser ponto de encontro de políticos, intelectuais, fidalgos e toda a gama de apreciadores das artes, já que saraus literários aconteciam quase toda a semana, com a nata da aristocracia.

Esse “rolezinho” colonial era o início da tal efervescência cultural de São Paulo, que citei lá em cima!

A Marquesa de Santos falece em 1867 e o Solar passa a pertencer a seu filho, Comendador Felício Pinto de Mendonça e Castro. Mais tarde é vendido para a Mitra Diocesana, que o transforma no Palácio Episcopal, depois de fazer reformas em seu interior.

Em 1909 a The São Paulo Gaz Company compra o imóvel e faz inúmeras reformas, o que acaba descaracterizando-o de vez. Na década de 1960 é incorporado ao patrimônio da Prefeitura e, em 1991, tem início uma grande obra de revitalização.

Infelizmente, por conta de tantas intervenções, suas formas originais não puderam ser readquiridas totalmente, mas se fez o máximo para deixá-lo o mais próximo do que era.

Mesmo assim continua linda, um rico exemplar dos tempos coloniais com sua fachada neoclássica.

Durante os trabalhos de revitalização, arqueólogos encontraram diversos fragmentos de louças, utensílios, pregos, chaves, entre outros itens, que estão expostos em vitrines, com sua devida identificação.

Atualmente o casarão pertence ao Museu da Cidade, seu mantenedor. Além de sua contribuição histórica, o espaço é utilizado para exposições diversas. 

Centro de São Paulo – Beco do Pinto

Era uma passagem entre o Solar da Marquesa e a Casa N° 1. Seu nome vem do antigo proprietário do Solar, Brigadeiro José Joaquim Pinto de Moraes Leme. Diz que o Brigadeiro era do tipo que brigava com todo mundo e, em 1821, mandou fechar a passagem para que ninguém mais o usasse.

Em 1826 é reaberto e passa a ser chamado de Beco do Colégio. Por ele havia grande trânsito de pessoas e animais, pois ligava o largo da Sé à várzea do rio Tamanduateí.  Mas em 1834, a Marquesa de Santos, ao se instalar no Solar, consegue da Câmara da cidade que a passagem seja fechada novamente.

Em 1912 é desativado definitivamente, depois que a Ladeira do Carmo é aberta, hoje Av. Rangel Pestana. Coitado do Beco, todo mundo dava pitaco na “vida” dele!!!

Casa N° 1 | Casa da Imagem

A casa já teve os N°s 3, 81 e 1 até que em 1936 recebeu o N° 136, em função do sistema métrico adotado na cidade. No local onde foi construída, da-se conta de que existia uma outra casa de taipa do século XVII.

Mostra a evolução das técnicas de construção da cidade, representando o uso residencial aristocrático na segunda metade do século XIX. A partir de 2009 passou por uma profunda restauração, que tornou aparente as pinturas das paredes, assim como o assoalho e mais uma infinidade de detalhes. Eu adoro casas coloniais.

Me transporto para a época em que eram habitadas, imaginando tudo sobre quem morava ali!

Janelas laterais da Casa N°1, a partir do Beco do Pinto. Isso me fez lembrar a música: “da janela lateral, do quarto de dormir…”, do Beto Guedes!!

De suas janelas avarandadas tem-se a vista do Largo do Páteo do Collegio e do Museu Anchieta, contrastando com o arranha céu mais famoso da cidade, o prédio do Banespa.

Atualmente a Casa N°1 abriga a Casa da Imagem, instituição voltada à memória fotográfica da cidade de São Paulo.

E na ocasião da minha visita, uma mostra fotográfica publicitária acontecia. Fiz uma volta no tempo, relembrando antigas e clássicas propagandas de TV.

E assim chegamos ao fim deste passeio! Eu sei que esse post ficou um pouco extenso, mas “fatiá-lo”, contando as histórias separadas, não faria sentido. Acreditem, elas estão interligadas!

Eu sou apaixonada por história, seja ela passada ou recente. No fundo eu sei que vocês gostaram, mesmo tendo que ler horrores 🙂 E eu agradeço muito por isso, meus leitores queridos!


CASA N° 1 e BECO DO PINTO – Rua Roberto Simonsen, 136B – Sé – São Paulo. Fone: (11) 3106-5122 E-mail: contato.casai@prefeitura.sp.gov.br

SOLAR DA MARQUESA – Rua Roberto Simonsen, 136A – Sé – Fone +55 11 3241-1081 e-mail: museudacidade@prefeitura.sp.gov.br Funcionamento: Terça a Domingo, das 9h às 17h. Entrada franca.

Transporte
Linhas de ônibus consultar: SPTRANS
Metrô linhas: Azul e Vermelha – Estação Sé

QUER SABER MAIS? LEIA OU ASSISTA:

  • Titília e Demonão – Cartas Inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos – Paulo Rezzuti, Ed. Geração Editorial
  • 1822 – Laurentino Gomes (os outros livros da trilogia, 1808 e 1889, também são imperdíveis)!
  • O Quinto dos Infernos” e “Novo Mundo” –  TV Globo

Centro de São Paulo e suas relíquias do período imperial

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Sou a Márcia, gaúcha lá de São Leopoldo. Sou jornalista, gremista, leonina, corredora amadora, viajante e Editora do Casa de Doda! Aqui eu conto sobre os lugares por onde andei e as belezas que vi. E sobre o que eu não gostei, também!! Vem passear comigo.

10 COMENTÁRIOS

  1. Que delícia de texto!! Eu adoro também adoro história e adorei a forma como você consegue contou sobre os lugares!! Me dei conta que faz anos que não passo por lá … da última vez que fui estavam passando por restaurações!! Já quero voltar! Beijos Karina

  2. Muito legal seu post, sou de S.Paulo e há anos não vou ao centro velho, você conseguiu aguçar minha vontade de redescobrir o passado histórico de lá com belas fotos!

    • Oi Reginaldo! Que bom que gostou. Eu considero o centro velho de SP uma joia. A história da cidade está presente ali e vale a pena percorrer aqueles recantos. Obrigada pelo comentário. Volte sempre! Abraço.

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