Andar pelo centro de São Paulo é se surpreender a cada esquina! E foi isso que aconteceu comigo, quando descobri que era possível visitar o Edifício Matarazzo, que pertenceu a Família Matarazzo, uma das mais ricas e tradicionais do Brasil, e que hoje é a sede da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Ele fica no Viaduto do Chá e de frente para o Vale do Anhangabaú, entre outros pontos turísticos históricos dessa cidade que não dorme, que é frenética, mas que por baixo daquela imensidão de concreto, tem lugares tão bucólicos para nos mostrar.
Descobri a visita por acaso, ao parar no Centro de Informações Turísticas da Galeria Olido (já falei dela, quando escrevi sobre a História do Circo). Parei ali para perguntar a distância de algum lugar que queria conhecer e o rapaz falou: – Olha, tem uma visita muito legal, que começou não faz muito tempo mas que já caiu no gosto dos moradores e turistas, é a visita ao Ed. Matarazzo. Logo pensei: – Opa! É pra lá que eu vou! E fui!!
O próximo horário de visitação seria às 14h30 (era umas 12h30 quando estava na Galeria), mas o rapaz das Informações frisou que eu deveria ir logo, para colocar meu nome na lista, pois os grupos são limitados a 10 pessoas. Me despenquei correndo para lá and… Esperei, esperei, esperei.
Por que o guia tinha saído para o almoço e voltaria ali pelas 13h45. O que não aconteceu! Ele só chegou às 14h05. A essa altura meu estomago chorava como um bebê, de tanta fome. Mas tudo bem! Quando o guia chegou, fui logo me aproximando, mas ele me olhou e disse: – Eu já chamo você. Moço, tu não entendeu, estou aqui faz quase duas horas te aguardando, com fome, com vontade de ir ao banheiro, me chame logo!
Eu pensei tudo isso, mas não verbalizei!! Enfim, resolvido todos os trâmites para adentrar ao Edifício, olhei o relógio e vi que ainda faltavam 12 minutos para às 14h30. Olhei nos olhos de meu algoz e disse, “vou ali correndo, pegar um suco, tá?” e Ele: OK. Mas eu começo a visita pontualmente às 14h30.
Meu sangue leonino ferveu, mas fiquei sussa, sai correndo de novo, peguei um suco e ainda cheguei faltando 3 minutos para a hora da visita. Olhei pra ele com cara de vitória e pensei: – Sou The Flash!!! O detalhe é que fazia um calor de 31° no centro de São Paulo, meus miolos já tinha fritado diversas vezes 🙁
Mas chega de trolóló e vamos ao que interessa, né? Para começar, um pouco de história!
A Família Matarazzo
Em 1881 chega ao Brasil, Francesco Matarazzo. Ele vem da Itália, com um lote de banha de porco, mas o navio naufraga e ele perde tudo. Acaba indo parar em Sorocaba, no estado de São Paulo, onde tenta recomeçar seus negócios.
Ele não queria ser só mais um (rostinho!) imigrante no meio de milhares, queria se destacar. Assim abre um pequeno armazém, onde vende porcos e banha, e também arroz, queijo, indo na contramão dos demais, já que o forte da época, no país, era o café. Fazia tudo isso indo de porta em porta. Era um mascate!
Em 1890 muda-se para a cidade de São Paulo e manda buscar a família, que ainda permanecia na Itália. A partir dai começa a história de uma das famílias mais ricas que o Brasil já viu, os Matarazzo.
As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) chegaram a ter mais de 200 fábricas, em segmentos diversos como: moinhos de trigo e sal, tecelagens, indústria metalúrgica, refinarias de açúcar, fábricas de óleo e gordura, frigoríficos, fábrica de velas, uma fábrica de papel e a primeira refinaria de petróleo, que ficava em Cubatão.
Além de sua expansão industrial, Matarazzo tinha um banco, frota de navios, um terminal no porto de Santos, locomotivas para o transporte de mercadorias e ainda contava com inúmeros imóveis de alto padrão, entre eles a mansão da família, na Av. Paulista, que foi demolida no início da década de 1990, causando grande comoção na cidade. O cara trabalhava pra caramba!
Por sua contribuição, enviando mantimentos às tropas Italianas, durante a Primeira Guerra Mundial, recebeu do rei Vitorio Emmanuele o título de Conde. Tornando-se Conde Francesco Matarazzo. Mesmo com a comenda, muitos aristocratas e novos ricos brasileiros não o viam com bons olhos! Acho que ele não estava muito preocupado com isso, por que continuou empreendendo.
Infelizmente, todo o trabalho iniciado no final do século XIX foi sendo aniquilado nos séculos XX e XXI. Em 2013 a penúltima indústria Matarazzo fecha suas portas. A Celosul, empresa de celofanes. Atualmente a única fábrica do Grupo Matarazzo ainda em funcionamento, é a Matflex, que produz tecido não tramado.
Depois de contextualizar para vocês, quem eram os Matarazzo, continuo agora com o relato da nossa visita!
Edifício Matarazzo – Visita Guiada
Nosso guia, o Adalberto, nos informa que a visita ao Edifício Matarazzo começa pelo lado externo, onde ele fala sobre a construção do prédio e sobre a origem da escultura que enfeita o espaço.
Sobre o prédio, conta que foi uma encomenda dos Matarazzo ao arquiteto Marcello Piacentini, para ser sede das empresas. Até o final do século XIX não havia produção industrial no Brasil, que acaba sendo introduzida por Matarazzo.
Por isso na fachada do prédio estão representadas todos as cadeias produtivas onde o grupo atuava, através de entalhes no mármore. É possível ver a siderurgia, indústria, agricultura, ciência e falta uma que não lembro!
Já a escultura é a Guanabara, que foi esculpida em 1941 pelo artista João Batista Ferri. Adepto do estilo realista ele fez em granito um ser metade humana, metade sereia. Depois de passar por vários lugares na cidade, em 2009 a escultura foi finalmente entronizada em frente a Prefeitura.
O imponente edifício de 14 andares, foi inaugurado em 1939. Infelizmente Francesco não vê o prédio pronto. Quem o inaugura é Francisco Jr, seu 12° filho e que fica em seu lugar, comandando os negócios. Matarazzo Jr. morre em 1977 e quem assume o controle das empresas é sua filha, Maria Pia Matarazzo.
O saguão todo feito em mármore travertino trazido da Itália, tem pé direito altíssimo e prima pela luminosidade. As colunas de sustentação também trazem entalhes, que representam trabalhadores.
Analisando tudo, pode-se entender que não se poupou para a construção do prédio, dada a riqueza de detalhes e o material que foi usado. Não à toa o prédio também é chamado de Palácio Matarazzo.
Ainda no saguão um mapa do Brasil enorme, chama a atenção. Foi feito em Veneza e trazido para São Paulo em partes, como um quebra cabeça, onde foi então montado.
Tinha sido encomendado para a inauguração, mas sua produção teve um atraso e só foi incorporado ao ambiente em 1945. Como ele apresenta a divisão antiga do país, podemos ver territórios e o Mato Grosso como um estado só!
O edifício foi sede das empresas Matarazzo até o ano de 1972, quando é vendido para o Grupo Audi. Depois passa a pertencer ao Santander e se torna o “Banespinha” até 2003. Em 2004 a prefeitura recebe o imóvel em pagamento de dívidas e ali está até hoje.
E agora vem a cereja do bolo! Vamos para o terraço do prédio, de onde podemos observar boa parte do centro da cidade do alto, além de curtir um Jardim lindo, que foi sendo cultivado, tratado, cuidado, ao longo de quase 90 anos.
Mudas de árvores trazidas de todos os continentes embelezam o espaço e carpas deslizam tranquilas em espelhos d’água. Com o calor que fazia naquele dia, poder apreciar a vista da cidade, em um lugar com tanto verde e sombra, foi como estar em um oásis no deserto.
Dos mirantes podemos ter a vista do Theatro Municipal, Praça das Bandeiras, Vale do Anhangabaú, Edifício Altino Arantes – O Banespão!
Ao olhar para a Praça das Bandeiras só se vê a bandeira do Brasil tremulando! Por que então diz que é “das bandeiras”? Por ser uma homenagem aos Bandeirantes, que também ajudaram a povoar a cidade, nos séculos XVI e XVII. Ali embaixo, onde hoje fica a Praça, passavam os rios Itororó e Saracura.
De outro ponto do Edifício Matarazzo temos a vista do Edifício Altino Arantes, apelidado de Banespão, pois a sede do banco fica lá! Tem um terraço que também pode ser visitado, só que este ano, por problemas “técnicos” as visitas estão suspensas sem data para retorno. Eu fiquei meio obcecada pelo prédio e tirei várias fotos dele, de vários pontos da cidade!
Considerado o prédio mais alto de São Paulo, o Edifício Palácio W Zarzur, ao lado do Viaduto de Santa Ifigênia, ganha dos célebres Altino Arantes e Martinelli! Os outros parecem ser mais altos por que ficam em uma parte elevada do centro.
Um plus sobre os grandes industriais do Brasil
Ao lado dos Guinle (Copacabana Palace), dos Martinelli (Edificio Martinelli) e de de Percival Farquhar (Ferrovia Madeira Mamoré), os Matarazzo comandaram grandes indústrias, de vários setores e colocaram o país à vista de investidores.
Alguns os chamavam de visionários, outros de terem excesso de confiança e quererem empreender mais do que podiam. Na minha opinião os caras foram muito corajosos e bancaram seus sonhos! O History Channel tem uma mini série bem legal, que conta a história de cada família e de como elas se interligaram ao longo do tempo.
A visitação ao Edifício Matarazzo é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo com a São Paulo Turismo (SPTuris) e tem o objetivo de levar moradores e turistas para conhecerem imóveis importantes para a história da cidade. No dia que visitei, só mais duas pessoas participaram e, só lembrando, nosso guia foi o Adalberto!
E ai? Gostaram do passeio? Espero que sim! Fica dica então, quando estiverem em São Paulo, reservem um tempinho para conhecer um lugar bonito e diferente.
VISITAÇÃO|EDIFÍCIO MATARAZZO – Viaduto do Chá, n° 15 – Centro – Funcionamento: segunda a sábado, às 10h30, 14h30 e 16h30. Duração: a visita dura cerca de uma hora. Não há agendamento prévio, é preciso chegar no mínimo 01 hora antes, à recepção ou no máximo 15 minutos antes da visita. Grupos limitados a 10 pessoas. É preciso apresentar documento oficial com foto, inclusive para crianças (crianças de até 5 anos incompletos pode apresentar a certidão de nascimento).
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[…] nossa amiga Márcia, do Casa de Doda, também fez o tour pelo Edifício Matarazzo recentemente e fez um post poucos dias atrás lindão no blog dela sobre a visita! Não deixa de conferir. Márcia, juro que […]
Oi… Eu fui seu monitor… Obrigado pela matéria positiva.
Ah, meu nome é Adalberto… rsss
Eiiii Adalberto!! Perdão por ter errado teu nome, já fiz a correção! Obrigada por visitar o blog e deixar um comentário! Abraço
olá, boa tarde! ainda não visitei o jardim depois da privatização do Banespa. Gostaria de fazer algumas correções. Em 1974 o prédio passou ao Banespa, tinha agência e departamentos. O jardim é dos anos 70 e quem cuidava era o zelador Sr.Galera que inclusive tem a placa como forma de homenagem
Oi Angela! Obrigada! Sim, numa das fotos do post eu mostro a placa em homenagem ao Sr. Walter Galera.